Take this waltz

Le Poème de l'âme - Adieu - Anne-François-Louis Janmot (1814-1892)


Nos bosques, perdido, cortei um ramo escuro
E aos labios, sedento, levante seu susurro:
era talvez a voz da chuva chorando,
um sino quebrado ou um coracao partido.
Algo que de tao longe me parecia
oculto gravemente, coberto pela terra,
um gruto ensurdecido por imensos outonos,
pela entreaberta e humida treva das folhas.
Porem ali, despertando dos sonhos do bosque,
o ramo de avela cantou sob minha boca
E seu odor errante subiu para o meu entendimento
como se, repentinamente, estivessem me procurando as raizes
que abandonei, a terra perdida com minha infancia,
e parei ferido pelo aroma errante.

- Pablo Neruda -

SILENCE


Silence - Henry Fuseli (1741-1825)

Jewel - Foolish Games

A PAZ

Reflections - Frederick Hart (Lucite Sculptures)


A alva pomba da paz voou aos céus serenos.

Embaixo homens se agitavam
entre gritos e tiros.

Paquidermes mecânicos
sulcavam fossos
rasgando trincheiras.

Cansada de librar-se nas alturas
a pomba da paz
buscou na terra um pouso
e flechou
num vôo reto
rumo a uma coisa imóvel
hirta e muda no raso campo verde.

E pousou
calma e triste
sobre as mãos cruzadas de um cadáver.

-Menotti del Picchia-

Noite

The Bridge: Nocturne - Julian Alden Weir (1852-1919)

As casas fecham as pálpebras das janelas e dormem.
Todos os rumores são postos em surdina,
todas as luzes se apagam.

Há um grande aparato de câmara funerária
na paisagem do mundo.

Os homens ficam rígidos,
tomam a posição horizontal
e ensaiam o próprio cadáver.

Cada leito é a maquete de um túmulo.
Cada sono um ensaio de morte.

No cemitério da treva
tudo morre provisoriamente.


-Menotti del Picchia-
Constantinople Au Soleil Couchant - Félix Ziem (1821-1911)

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

-António Gedeão-

Eva Cassidy - autumn leaves

Sun Rising through Vagour - Joseph Mallord William Turner (1775-1851)


AMOR, agora nos vamos à casa

onde a trepadeira sobe pelas escadas:

antes que chegues, alcançou teu quarto

o verão nu com pés de madressilva.



Nossos beijos errantes percorreram o mundo:

Armênia, espessa gota de mel desenterrada,

Ceilão, pomba verde, e Yang Tsé separando

com antiga paciência os dias das noites.



E agora, bem-amada, pelo mar crepitante

voltamos como duas aves cegas ao muro,

ao ninho da longínqua primavera,



porque o amor não pode voar sem deter-se:

ao muro ou às pedras do mar vão nossas vidas,

a nosso território regressaram os beijos.



(Pablo Neruda)

Caravaggio

The Mountain Brook - Albert Bierstadt (1830-1902)

8

The Shipwreck - Ferdinand Hofbauer

8
borboletas filiformes sobrevoam estes regatos tardios
escondem-se nos torrões da terra lavrada e desovam
plátanos espalham folhas semelhantes a complicados mapas topográficos

mais além
um acampamento cigano

caminho para a noite mas não tenho frio
é só o início dum provável outono
o acampamento recorta-se em contraluz
quando agressivos insectos trabalham recantos nómadas da memória

os ciganos possuem a sabedoria dos fogos acesos ao entardecer
quem poderá afirmar que um deles
o mais jovem
não aprende o mistério das cartas?
ou a mágica vida das linhas da mão?
a essa hora transmite-se de pai para filho
a arte dos insuspeitos ofícios do coração

as casas surgem de repente iluminadas por dentro
a paisagem envolveu-se de solidão
pressinto a força perfumada da terra subindo
ao medo da recente noite

Al Berto
(de TRABALHOS DO OLHAR, 1979/82, in O Medo, Assírio & Alvim, 1997)

Ápice

The Hand of God - Rodin

O raio de sol da tarde

Que uma janela perdida

Reflectiu

Num instante indiferente-

Arde,

Numa lembrança esvaída,
À minha memória de hoje Subitamente...
Seu efémero arrepio
Ziguezagueia, ondula, foge,

Pela minha retentiva...
-
E não poder adivinhar

Por que mistério se me evoca

Esta ideia fugitiva,

Tão débil que mal me toca!...

-Ah, não sei porquê, mas certamente

Aquele raio cadente

Alguma coisa foi na minha sorte

Que a sua projecção atravessou...
Tanto segredo no destino de uma vida...

É como a ideia de Norte,
Preconcebida,

Que sempre me acompanhou...


-Mário de Sá Carneiro ( Dispersão)-

Convite da Loucura

Love by John Everett Millais

"A Loucura resolveu convidar os amigos para tomar um café na sua casa. Todos os convidados apareceram. Após o café, a Loucura propôs:
- Vamos brincar às escondidas?
- Escondidas? O que é isso? - perguntou a Curiosidade.
- Escondidas é uma brincadeira. Eu conto até cem e vocês escondem-se. Quando terminar de contar, eu vou procurar, e o primeiro a ser encontrado será o próximo a contar.
Todos aceitaram, menos o Medo e a Preguiça.
-1,2,3,... - a Loucura começou a contar.
A Pressa escondeu-se primeiro, num lugar qualquer. A Timidez, tímida como sempre, escondeu-se na copa de uma árvore. A Alegria correu para o meio do jardim. Já a Tristeza começou a chorar, pois não encontrava um local apropriado para se esconder. A Inveja acompanhou o Triunfo e escondeu-se perto dele debaixo de uma pedra. A Loucura continuava a contar e os seus amigos iam-se escondendo. O Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já estava no noventa e nove.
- CEM! - gritou a Loucura. - Vou começar a procurar...
A primeira a aparecer foi a Curiosidade, já que não aguentava mais pois queria saber quem seria o próximo a contar. Ao olhar para o lado, a Loucura viu a Dúvida em cima de uma cerca sem saber em qual dos lados ficar para melhor se esconder. E assim foram aparecendo a Alegria, a Tristeza, a Timidez...
Quando estavam todos reunidos, a Curiosidade perguntou:
- Onde está o Amor?
Ninguém o tinha visto. A Loucura começou a procurá-lo. Procurou em cima da montanha, nos rios, debaixo das pedras e nada do Amor aparecer. Procurando por todos os lados, a Loucura viu uma roseira, pegou um pauzinho e começou a procurar entre os galhos, quando de repente ouviu um grito. Era o Amor, gritando por ter furado o olho com um espinho. A Loucura não sabia o que fazer. Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu segui-lo para sempre. O Amor aceitou as desculpas.
Hoje, o Amor é cego e a Loucura acompanha-o sempre."


Autor anónimo.

Pink Floyd "Shine On You Crazy Diamond"


Num deserto sem água
Numa noite sem lua

Num país sem nome

Ou numa terra nua


Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.


-Sophia de Mello Breyner-

Todos os dias agora acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava com sensação nenhuma: acordava.

Tenho alegria e pena porque perco o que sonho

E posso estar na realidade onde está o que sonho.

Não sei o que hei de fazer das minhas sensações,

Não sei o hei-de ser comigo.

Quero que ela me diga qualquer coisa par eu acordar de novo.

Quem ama é diferente de quem é.

É a mesma pessoa sem ninguém.


-Alberto Caeiro-



Cheguei à janela,
Porque ouvi cantar.
É um cego e a guitarra

Que estão a chorar.


Ambos fazem pena,
São uma coisa só
Que anda pelo mundo

A fazer ter dó.

Eu também sou um cego
Cantando na estrada,

A estrada é maior

E não peço nada.


-Fernando Pessoa-


Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mão e as paredes de Elsinore

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

-Mário Cesariny de Vasconcelos-

Há-de flutuar uma cidade

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho
da noite os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

-Al Berto-

Melancholia


The history of melancholia
includes all of us.


-Charles Bukowski-

Leonardo da Vinci (Mozart's Requiem)


Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando —
a delimitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.

Mário Cesariny

Soneto XLIV

Se minha carne fosse pensamento
A distância jamais me reteria;

Apesar dos espaços, em um momento,
E bem longe, a ti eu chegaria.

Que importa onde meu pé pudesse estar,
Em que terra de ti tão afastada ?

O pensamento salta terra e mar
Só de pensar na terra desejada.

Morro ao pensar que não sou pensamento,
E que sonhar distâncias não consiga;

Sou feito de água e terras, os elementos
Que ao tempo ocioso e à minha dor me obrigam.

De lentos elementos me resigno,
A ter somente as lágrimas, seus signos.

A um dia de verão como hei de comparar-te ?
A um dia de verão como hei de comparar-te ?

Vencendo-o em equilíbrio, és sempre mais amável!
Em maio o vendaval em ternos botões disparte

E o estio se consome em prazo não durável.
Às vezes, muito quente, o olho de céu fulgura,

Outras vezes se ofusca com a sua tez dourada;
Decai da formosura, é certo, a formosura,

Pelo tempo ou o acaso é enfim desadornada:
Mas teu verão é eterno, e não desmaiará,

Nem hás de a possessão perder tua beleza,
Vagando em sua sombra, o fim não te verá,

Pois neste verso eterno ao tempo, tu te igualas:
Enquanto o homem respire, e os olhos possam ver,
Meu canto existirá, e nele hás de viver.

-Shakespeare-
Y aún me atrevo a amar
el sonido de la luz en una hora muerta,
el color del tiempo en un muro abandonado.

En mi mirada lo he perdido todo.
Es tan lejos pedir. Tan cerca saber que no hay.

-Alejandra Pizarnik-
Eu cantei este amor sem que soubesses.
Falei de ti com as palavras mais limpas,
viajei (sem que soubesses) no teu interior.
Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres,
tropeçavas em mim e eu era uma sombra
ali posta para não reparares em mim.

Andei pelas praças anunciando o teu nome,
chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada.
Em tudo o mais usei de parcimónia
a que me forçava aquele ardor exclusivo.

Hoje os versos são para entenderes.
Reparto contigo um óleo inesgotável
que trouxe escondido aceso na minha lâmpada
brilhando (sem que soubesses) por tudo o que fazias.

-Fernando Assis Pacheco-
C'est tellement mystérieux le pays des larmes...

Antoine de Saint-Exupéry

Claude Monet


Somos folhas breves onde dormem
aves de silêncio e solidão.
Somos só folhas ou o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
cada ave se transforma noutro ser.

Eugénio de Andrade ( Poesias-1945-1965)

Sorry Seems to Be the Hardest Word - Dee Dee Bridgewater


Só conhecia a versão do Phil Collins, mas devo dizer que esta versão interpretada por Dee Dee Bridgewater é...simplesmente...fantástica.

Luciano Pavarotti sings "Caruso"

Moon River

GOSTO DE TI

Eva Cassidy - over the rainbow

Carole King - So Far Away



And all that's left is loving you forever

Now and forever, i will always think of you...

Blogger Templates by Blog Forum