quinta-feira, 31 de julho de 2008
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
-Alberto Caeiro-
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Vem ver-me antes que eu morra de amor
domingo, 27 de julho de 2008
Vem ver-me antes que eu morra de amor - o sangue
arrefece dentro do meu corpo e as rosas desbotam
nas minhas mãos. Da minha cama ouço a tempestade
nos continentes; e já quis partir, deixar que o vento
levasse a minha mala por aí; fiz planos de correr mundo
para te esquecer - mas nunca abria a porta.
Vem ver-me enquanto não morro, mas vem de noite -
a luz sublinha a agonia de um rosto e quero que me recordes
como eu podia ter sido. Da minha cama vejo o sol
tatuar as costas do meu país; e já sonhei que o perseguia,
que desenhava o teu nome no veludo da areia e sentia
a vida a pulsar nessa palavra como um músculo tenso
escondido sob a pele - mas depois acordava e não ia.
Vem ver-me antes que morra, mas vem depressa -
os livros resvalam-me do colo e o bolor avança
sobre a roupa. Da minha cama sinto o perfume das folhas
tombadas nos caminhos. O outono chegou. E o quarto
ficou tão frio de repente. E tu sem vires. Agora
quero deitar-me no tapete de musgo do jardim e ouvir
bater o coração da terra no meu peito. Os vermes
alimentam-se dos sonhos de quem morre. E tu não vens.
- Maria do Rosário Pedreira -
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sábado, 26 de julho de 2008
- Umberto Eco -
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Flor que não dura
Mais do que a sombra dum momento
Tua frescura
Persiste no meu pensamento.
Não te perdi
No que sou eu,
Só nunca mais, ó flor, te vi
Onde não sou senão a terra e o céu.
- Fernando Pessoa -
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Pudesse eu personificar e aflorar agora
O que me é mais profundo, pudesse eu liberar
Meus pensamentos em expressão, e assim lançar
Alma, coração, mente, paixões, sentimentos, fortes ou fracos,
Tudo o que teria buscado e tudo o que busco,
Encerro, sei, sinto, e ainda respiro, numa só palavra,
E a palavra fosse luz, eu falaria.
Mas, como é, vivo e morro inaudível,
Como um pensamento mudo, embainhando-o como uma espada
- Lord Byron -
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Se eu pudesse não ter o ser que tenho
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Se eu pudesse não ter o ser que tenho
Seria feliz aqui...
Que grande sonho
Ser quem não sabe quem é e sorri!
Mas eu sou estranho
Se em sonho me vi
Tal qual no tamanho
O que nunca vi...
-Fernando Pessoa -
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Soneto 134
quinta-feira, 24 de julho de 2008
A paz não tenho, e sem ter motivo vou à guerra:
e temo, e espero, e ardo em fogo, e sou de gelo,
e quero subir ao céu e caio em terra,
e nada abraço e o universo ando a contê-lo.
Tal é minha prisão, que não se abre, e não se encerra:
prende-me o coração, mas sem prendê-lo,
não me dá vida ou morte, Amor, e erra
minha alma sob o enorme pesadelo.
Odeio-me a mim mesmo, alguém amando,
grito sem boca ter, sem olhos vejo,
e quero morrer, e a morte me apavora.
Nutrindo-me da dor, chorando eu rio:
igualmente não me importam a morte e vida:
eis o estado em que me encontro, Senhora, por vós.
- Francesco Petrarca -
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Ficarias aí deitado, o olhar fixo noutros olhares. Silencioso, ou a contar histórias de barcos, de oceanos e de mares, de peixes e de turbulentos rios - até que a luz poeirenta do mundo se extinguisse, para sempre.
Asfixiado pelas areias da praia onde a vaga fosforosa te abandonou.
Por que é que eu caminho no fundo deste tempo escuro e já não existo?
Mas nada acontece, porque a tua morte me tolheu. Não se ouve um fio de voz.
Resta o teu corpo deitado sob a respiração febril de quem se deu ao trabalho piedoso da vigília.
É através da memória dos outros que recordas o rosto que tiveste.
O que quero dizer é que já não sinto nada quando te olho. O rosto está morto e amortalhou o meu.
Outrora, quando navegavas, escrevia-te para contar o que não tinha sentido na viagem. Hoje, penso em ti como se fosses uma música da alma.
O teu olhar de morto e o meu são cúmplices, e ainda não deu hora nenhuma. Temos tempo de sobra.
Vou ressuscitar-te, assim poderás contar-me em sussurro o que fomos.
Eu poderei contar-te o que esqueci. Esta canção quase perdida na casa do nosso passado.
O sonho tem manchas de frutos sorvados no coração. Tem palpitações de sangue e de ilhas, de mares que se espreguiçam para dentro das cidades. E estas sobrevivem envoltas num véu de neblinas. Vêmo-las tremeluzir no turvo crepúsculo das praias.
Que ponte levadiça trará de novo o desejo esquecido nos postos longínquos?
- Al Berto, in Livro Décimo Quarto - Prosa Poética -
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Poetas
sábado, 19 de julho de 2008
Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
- Florbela Espanca -
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Inteira
terça-feira, 15 de julho de 2008
Inteira me deixo aqui,
inteira, posto que ausente,
- neste corpo que nasci
fez-me a vida ou minha mente?
De ninguém sobrevivi.
Ah! vida, me fiz consciente,
mestiça de mim, de ti ,
em morte - quase semente.
E em terra desejo estar
e sempre, enquanto me alerto
nas vozes de vento e mar.
Sem jamais me resolver
a conter-me num deserto
ou saciar-me de morrer.
- Maria Ângela Alvim -
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Ama-me pelo amor do amor somente.
Não digas nunca: “Amo o sorriso dela,
Seu rosto, ou o jeito de dizer aquela
Palavra murmurada de repente
Que faz meu pensamento confidente
Do seu, e torna a tarde ainda mais bela”.
Tudo pode mudar, meu bem, cautela,
Pois pode ser que o amor de nós se ausente.
Tampouco sirva o amor que assim me dás
Pra enxugar-te o pranto por piedade:
Quem prova teu consolo é bem capaz
De, sem chorar, perder-te por vaidade.
Mas se amas por amor, conseguirás
Amar sem fim, por toda a eternidade
- Elizabeth Barrett Browning -
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Espera
sábado, 5 de julho de 2008
Aqui onde o exílio
dói como agulhas fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.
Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.
- Eugénio de Andrade -
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SAUDADES
quinta-feira, 3 de julho de 2008
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